O reitor da Universidade de Roma La Sapienza decidiu convidar Bento XVI para proferir um discurso na abertura do ano académico nesta universidade, que teve lugar no dia 17 de Janeiro. O professor emérito de Física Marcello Cini considerou inaceitável esta mistura incongruente de ciência e religião e declarou-se ultrajado numa carta dirigida ao reitor em que lhe explicava, entre outras coisas, a tradição de mais de sete séculos de laicidade e autonomia da escola.
A esta carta seguiu-se outra assinada por 67 docentes - e subscrita por mais de 600 docentes como explicou o físico Andrea Frova - entre eles o recém-nomeado presidente do Consiglio nazionale delle ricerche (Cnr), Luciano Maiani, em que pediam:«Em nome da laicidade da ciência e da cultura e em respeito da nossa instituição aberta a professores e estudantes de todas as religiões e ideologias, esperamos que este evento incongruente possa ainda ser cancelado».
Para além das razões invocadas por Marcello Cini, os docentes recordavam um discurso em Parma de Ratzinger, em 15 de Março de 1990, em que este parafraseou Feyerabend: «Na altura de Galileu, a Igreja mostrou ser mais fiel à razão que o próprio Galileu. O julgamento contra Galileu foi razoável e justo». Palavras que os signatários consideraram que «como cientistas fiéis à razão e como professores que dedicaram as suas vidas ao avanço e difusão do conhecimento, ofendem-nos e humilham-nos».Os estudantes de Física da Sapienza iniciaram por sua vez uma semana anti-clerical em protesto pelo evento e aparentemente foram seguidos pelos restantes discentes da escola. Estavam já marcados uma série de eventos coincidentes com a visita que incluíam um concerto rock (Bento XVI considera a música rock «expressão de paixões elementares que, nos grandes concertos musicais, assumiu carácter de culto, ou melhor de contra-culto que se opõe ao culto cristão»), um desfile gay contra a homofobia do Papa e uma Lectio Magistralis «em defesa da ciência contra o obscurantismo católico».
Ontem cerca de 100 estudantes ocuparam a sala de reuniões do Senado da escola em protesto contra uma decisão da reitoria de cercar com um cordão policial o edíficio onde o evento teria lugar para impedir as manifestações de protesto dos estudantes. Os estudantes abandonaram a sala depois de o reitor lhes ter prometido um lugar para essas manifestações.
Pouco depois, o Vaticano anunciou que a visita de Bento XVI à La Sapienza fora cancelada.
Agora pensem:
Não haverá aqui um excesso de intolerância por parte de docentes e estudantes de La Sapienza, dessa intolerância de que tanto é acusada a Igreja Católica? O mesmo se diga quanto à liberdade de expressão.
O Dalai Lama participou em inúmeros colóquios com neurocientistas tão ilustres como António Damásio, colóquios que o próprio Dalai Lama organizou, e só no último destes colóquios é que houve uma reacção negativa.
E. Wilson afirma numa sua obra recente (A Criação) que se torna necessária a colaboração da ciência e da religião para se salvar o nosso planeta, e que o debate entre as duas dimensões da vida humana não tem que ser conduzido apenas ao nível metafísico. Parece-me uma posição bem mais sensata que a dos alunos e docentes de La Sapienza.
A esta carta seguiu-se outra assinada por 67 docentes - e subscrita por mais de 600 docentes como explicou o físico Andrea Frova - entre eles o recém-nomeado presidente do Consiglio nazionale delle ricerche (Cnr), Luciano Maiani, em que pediam:«Em nome da laicidade da ciência e da cultura e em respeito da nossa instituição aberta a professores e estudantes de todas as religiões e ideologias, esperamos que este evento incongruente possa ainda ser cancelado».
Para além das razões invocadas por Marcello Cini, os docentes recordavam um discurso em Parma de Ratzinger, em 15 de Março de 1990, em que este parafraseou Feyerabend: «Na altura de Galileu, a Igreja mostrou ser mais fiel à razão que o próprio Galileu. O julgamento contra Galileu foi razoável e justo». Palavras que os signatários consideraram que «como cientistas fiéis à razão e como professores que dedicaram as suas vidas ao avanço e difusão do conhecimento, ofendem-nos e humilham-nos».Os estudantes de Física da Sapienza iniciaram por sua vez uma semana anti-clerical em protesto pelo evento e aparentemente foram seguidos pelos restantes discentes da escola. Estavam já marcados uma série de eventos coincidentes com a visita que incluíam um concerto rock (Bento XVI considera a música rock «expressão de paixões elementares que, nos grandes concertos musicais, assumiu carácter de culto, ou melhor de contra-culto que se opõe ao culto cristão»), um desfile gay contra a homofobia do Papa e uma Lectio Magistralis «em defesa da ciência contra o obscurantismo católico».
Ontem cerca de 100 estudantes ocuparam a sala de reuniões do Senado da escola em protesto contra uma decisão da reitoria de cercar com um cordão policial o edíficio onde o evento teria lugar para impedir as manifestações de protesto dos estudantes. Os estudantes abandonaram a sala depois de o reitor lhes ter prometido um lugar para essas manifestações.
Pouco depois, o Vaticano anunciou que a visita de Bento XVI à La Sapienza fora cancelada.
Agora pensem:
Não haverá aqui um excesso de intolerância por parte de docentes e estudantes de La Sapienza, dessa intolerância de que tanto é acusada a Igreja Católica? O mesmo se diga quanto à liberdade de expressão.
O Dalai Lama participou em inúmeros colóquios com neurocientistas tão ilustres como António Damásio, colóquios que o próprio Dalai Lama organizou, e só no último destes colóquios é que houve uma reacção negativa.
E. Wilson afirma numa sua obra recente (A Criação) que se torna necessária a colaboração da ciência e da religião para se salvar o nosso planeta, e que o debate entre as duas dimensões da vida humana não tem que ser conduzido apenas ao nível metafísico. Parece-me uma posição bem mais sensata que a dos alunos e docentes de La Sapienza.